Seria temerário escrever sobre as angústias e fugas que o homem moderno utiliza para escapar de seu desamparo. As bibliografias sobre angústia, diz Ernest Becker, são tão vastos – volumes grandes e grossos – prateleiras inteiras sobre psicanálise, história, filosofia e claro, as Religiões. Usando as palavras da Ernest Becker que diz “que fugimos de nós mesmos, mesmo sem pensar que estamos fugindo [o tempo inteiro]” tomemos agora, nossos conhecimentos empíricos e científicos para um papinho.
Eu queria conversar com vocês leitores sobre algo extremamente interessante. Uma reflexão que vale a pena observar. Por eu ser um jovem estudante, pode ser que, lá na frente, eu encontre – como de costume os filósofos dizem – diagnósticos contemporâneos, ou, estratégias de lidar com que nós diagnosticamos. A extraordinária observação é que esse problema não é somente um quadro contemporâneo. Desde sempre o homem se viu numa enrascada – do tipo em meio à faixa de gaza – entre homens bombas e sem caminho a seguir, pois, se ficar pode se explodir, ou, se correr pode pisar uma mina terrestre.
Eu creio que o funcionamento psicológico normal no homem sempre percorre numa enrascada, envolvendo muito desejos, vontades, raiva, e, aliás, um emaranhado de “não sei o que estou sentindo”. Para sobreviver precisamos fugir de nós mesmos, afastamos todos os dias o pânico de nos sabermos mortais. O paradoxo do ser humano é ter uma consciência para poder esquecer de si próprio, e assim, caminhamos náufrago pela vida, por que, junto do conhecimento, vem o medo.
A experiência de estar vivo é uma denegação do fato que, nós nunca vamos deixar de ter medo. O filósofo José Ortega Y Gasset, exprimiu num de seus trabalhos a experiência do náufrago. Pegamos um exemplo: imagine que nós [os mortais] pudéssemos ter a consciência de entrar no TITANIC sabendo que ele partiria para afundar em meio ao núcleo oceânico. É mais ou menos essa idéia! Para Ortega “a verdadeira condição do ser humano é a condição de um náufrago”. Você só cresce [no sentido mais profundo] e só vira gente quando você toma a consciência que você já perdeu! Você está perdido! Aqui está uma idéia dos medos e angústias do Homem. Agora, se você não tem essa consciência você não está no mundo. Assim, o náufrago e a idéia de José Ortega: O homem percebe que está jogado no mundo, ela não sabe que mundo direito é esse. Ele sabe que foi um desastre que jogou ele lá [Adão e Eva, Big Beng, à lista é imensa]. Por conseqüência, ele não tem muito como sair desta situação e vive no medo e nas angústias. O filósofo José Ortega aborda o problema do náufrago com riqueza de detalhes, no qual eu me interesso muito, pois, é a priori das pessoas que sou circulado. Ao meu ver, a melhor e mais madura reflexão sobre o existencialismo do medo e das angústias. Agora nos perguntamos todos juntos: Como podemos pensar em cura dos medos e das angústias? Maravilha!
Um filósofo e psiquiatra chamado Karl Jarspers (1883-1969), muito próximo da filosofia existencial, dizia que: quando é que você pode começar falar de cura? Em que hora podemos pensar neste tipo de coisa? Diz ele: num processo terapêutico só conseguimos sair do “buraco” quando percebemos que a existência é um naufrágio. Quando não percebemos este náufrago – que é a profunda experiência do gozo de estar vivo – este gozo será o tempo todo medido, comedido, destruído, enfrentado por experiências de frustrações, experiências do mundo ao redor que, quanto mais você tenta dizer que elas [frustrações] não existem, você precisa ser um denegador de sua própria experiência. Ou seja, nós nunca vamos deixar de ter medo!
Bem, paremos por aqui. A negação da morte é uma daquelas obras de arte que todo ser humano põe em prática. Os medos e angústias, que também, estimulam o pensamento, a curiosidade intelectual e, não menos importante, a alma, são produtos de nossas substancias. Substancias genética, de vicissitudes e, não menos importante, nossa natureza. Cansarei de dizer que nós, seres humanos, precisamos enxergar nossas limitações. O que levanta as questões do mundo secular, terapêutico, cientifico. O homem que muito ter asas [num sentido metafórico] e esquece que possuam ou existem palavras. Acredito que o homem é sim, muito complexo, e, aliás, preso em instancias que o dominam para prática de seus prazeres, porém, sempre existirá uma limitação a que tememos reconhecer. Gostamos na verdade de colocar os advogados para brigarem, partidos políticos para se contradizerem, falar mal ou bem da Globo e da Record com patrões absolutistas e manipuladores, porém, sempre terminam numa praça de alimentação e com o cartão VISA pago, pois, é isso que tem que dar certo afinal. Os medos que sentimos e nós todos temos [não adianta dizer que não tem porque tem], são medos ancestrais, atávicos. Ninguém deixará de ter medo, isso é conversar de criança. Agora negar? Sempre!
* Redação realizada com auxílio da palestra assitida "Uma agenda para o medo" Com Luiz F. Pondé e do livro "A Negação da Morte" do autor Ernest Becker