*Atenção da Minha Mente
A motivação e a realização deste projeto nasceu da leitura do livro chamado ‘A Negação da Morte', esboçado pelo antropólogo [meio Psicólogo] estadunidense Ernest Becker (1924-1974). Em especial à Psicologia, Filosofia, Biologia e, claro, a Religião; que é tão experimentada com devoção pelos seres estafados do mundo de onde habitamos. Assim, este enredo faz da experiência e, meramente, o contexto, um projeto afundado num sentido lato da extenuação mortal e os comportamos no âmbito inseguro da Morte.
Em épocas de crises psicológicas as que vivemos, existem grandes pressões para que apresentem conceitos que ajudem os homens a compreenderem o seu dilema: há uma ânsia por ideias vitais, por uma simplificação da desnecessária complexidade intelectual. Uma dessas verdades vitais, conhecida há muito tempo, é a ideia do heroísmo; mas em épocas eruditamente “normais”, nunca pensamos em considerá-las importante, em exibi-la, em optá-la como conceito normal. Como observou William James na virada do século: “o instinto comum da humanidade pela realidade era, essencialmente, um palco para o heroísmo”. (Willian James, 1958).
Temos, agora, uma base científica para estudar e, principalmente, uma verdadeira compreensão da natureza do heroísmo e de seu lugar na vida humana. Um dos conceitos-chave para compreender a ânsia do homem pelo heroísmo é a idéia de narcisismo. Sigmund Freud descobriu que cada um de nós repete a tragédia do Narciso da mitologia grega: estamos perdidamente absortos em nós mesmos. Se nos preocupamos com alguém, em geral é conosco, antes de qualquer outra coisa. Na infância, vemos a luta pelo amor-próprio na sua fase menos disfarçada. A criança não tem vergonha daquilo de que mais precisa e que mais quer. É esse narcisismo que faz com que, nas guerras, homens continuem marchando até serem atingidos por tiros as queima-roupas: no fundo do coração, o indivíduo não acha que ele vai morrer, apenas sente pena daquele que esta do lado dele. A explicação para isso é de que o inconsciente não conhece a morte ou o tempo: Nos seus recessos orgânicos fisioquímicos mais íntimos, o homem se sente imortal. Como disse Aristóteles em algum lugar: sorte é quando o sujeito ao lado é que é atingido pela flecha. Na maior parte do tempo, para maioria de nós, esta ainda é uma definição exeqüível de sorte. Nenhuma dessas observações implica perfídia humana (Freud, 1914.).
O congressista norte-americano Mendel Rivers, por exemplo, que deu a máquina militar denotações orçamentárias especiais, disse ser homem mais poderoso desde Júlio César. Podemos com isso, ou mais exemplos, nos horrorizar, mas, a culpa não são deles. A ânsia pelo heroísmo é natural, e a admiti-la é um gesto de honestidade. O que os antropólogos chamam de “relatividade cultural” é, na verdade, a relatividade dos sistemas de heróis em todo mundo. Aí é que está a dificuldade. Como iremos ver adiante, torna-se ciente daquilo que se esta fazendo para alcançar o heroísmo e esse é o principal problema auto-análise da vida. Como expôs muito bem Becker: “Tudo o que é doloroso e moderador naquilo que os gênios psicanalíticos e religiosos têm descoberto a respeito do homem gira em torno de admitir o terror da Morte, o que geralmente, se faz para obter-se a auto-estima” (Becker, 1971).
Num debate histórico, narrado pelo livro chamado “Deus em questão”, C.S. Lewis escreve de forma intensiva sobre a Morte. Em O Problema do Sofrimento, quando ainda era ateu, ele descreve como o problema do sofrimento humano, especialmente “a capacidade do homem de prever a sua própria morte, ao mesmo tempo em que deseja profundamente a permanência”, torna difícil crer em um Criador [DEUS]. A morte equivale à extinção - e embora fosse temível e amedrontadora, representava uma saída. Muitas verdades são ditas de brincadeira – e ficamos sabendo, a partir de sua autobiografia. (Lewis, 1928).
O que tentei fazer nesta breve introdução não foi só mostrar com que iremos trabalhar e o lado mesquinho do homem, porém, também existe o lado nobre. O homem quer sim quer não, dará vida à pátria, sua sociedade, sua família. E isso é extremamente necessário para uma vida salutar, ou melhor, dizendo, uma regularização social. Mas tem que sentir que isso é verdadeiramente heróico, transcendente e significativo. Aí esta mais uma exemplificação de como o heroísmo trabalha. Como iremos ver à em breve, toda sociedade é, assim, uma “religião”: a religiões “verdadeiramente religiosas quanto à religião científica pessoal, mística e a do consumismo”. E mais, "o Horizonte da Morte sempre estará presente".
E nessa perspectiva que entra o objetivo desse projeto: a de idéias científicas, religiosas, espirituais que o Homem se divide para lidar com a Morte. Apanhemos esse pensamento com Ernest Becker, Freud, Platão, experiências religiosas, místicas, pessoais, científicas, para ver onde este desnudar dos últimos 150 anos irá nos levar. O que nos levou ao interesse deste assunto que, muitas vezes é considerado fúnebre, foi à configuração em que o trabalho multidisciplinar lida com a temática. Considerar e abranger a finitude humana fez com que, ao contrário da curiosidade, tornasse um tema revolucionário para os leitores dessa investigação. Há 2.500 anos que vimos esperando e acreditando que, se a humanidade pudesse revelar-se a si mesma, pudesse vir a ter um conhecimento amplo de suas motivações próprias tão acalentadas, poderia de algum modo fazer com a balança das coisas pendesse ao seu favor. Um ponto de vista meu, que me fez criar aqui, algumas páginas, para esta visão.
* Dissertação utilizada no 2° semestre na faculdade da matéria Pesquisa em Saúde; São Paulo 2010